segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

SAUDADES

SAUDADE. Na busca de uma definição desta palavra, encontrei a Wikipedia, o qual diz que é uma das palavras mais presentes na poesia de amor da língua portuguesa e também na música popular, "saudade", só conhecida em galego-português, descreve a mistura dos sentimentos de perda, distância e amor. A palavra vem do latim "solitas, solitatis" (solidão), na forma arcaica de "soedade, soidade e suidade" e sob influência de "saúde" e "saudar".


Tudo que a vida nos proporciona em nossa vida, sempre nos dará duas opções, e com a saudade não é diferente, ela pode ser boa, gostosa, resgate de boas lembranças como também pode nos gerar um desconforto enorme, de perda, de tristeza. Já dizia o Luiz Gonzaga, na sua música:

``Se a gente lembra só por lembrar
Do amor que a gente um dia perdeu
Saudade inté que assim é bom
Pra o cabra se convencer
Que é feliz sem saber
Pois não sofreu

Porém se a gente vive a sonhar
Com alguém que se deseja rever
Saudade entonce aí é ruim
Eu tiro isso por mim
Que vivo doido a sofrer``

O sentimento da saudade é muito mais doloroso porque sempre teremos em nossa mente que poderíamos ter dado mais atenção, que poderíamos ter nos dedicado mais, poderia ter beijado mais, ou poderia ter abraçado mais, ou quem sabe por que não ter dito mais, EU TE AMO! O sentimento é de perda de algo que poderíamos ter feito mais, é algo que angustia e fica o sentimento de que nunca mais poderemos corrigir esta falha. E sempre ficamos buscando pequenos motivos, pequenos detalhes para ficar entrando em conflitos, que só fazem atrapalhar a relação de amizade, irmandade, fraternidade, de amor.

A Saudade é extremamente difícil em lidar, não é fácil, mas vou descrever um texto abaixo, de um médico-oncologista, Rogério Brandão, o qual ele relata uma experiência vivida na sua profissão, o que pode nos dar uma boa lição de como poderíamos encarar melhor esse sentimento.

`` Um dia, um anjo passou por mim…


No início da minha vida profissional, senti-me atraído em tratar crianças, me entusiasmei com a oncologia infantil. Tinha, e tenho ainda hoje, um carinho muito grande por crianças. Elas nos enternecem e nos surpreendem com suas maneiras simples e diretas de ver o mundo, sem meias verdades.

Nós médicos somos treinados para nos sentirmos “deuses”. Só que não o somos! Não acho o sentimento de onipotência de todo ruim, se bem dosado. É este sentimento que nos impulsiona, que nos ajuda a vencer desafios, a se rebelar contra a morte e a tentar ir sempre mais além. Se mal dosado, porém, este sentimento será de arrogância e prepotência, o que não é bom. Quando perdemos um paciente, voltamos à planície, experimentamos o fracasso e os limites que a ciência nos impõe e entendemos que não somos deuses. Somos forçados a reconhecer nossos limites!

Recordo-me com emoção do Hospital do Câncer de Pernambuco, onde dei meus primeiros passos como profissional. Nesse hospital, comecei a freqüentar a enfermaria infantil, e a me apaixonar pela oncopediatria. Mas também comecei a vivenciar os dramas dos meus pacientes, particularmente os das crianças, que via como vítimas inocentes desta terrível doença que é o câncer.

Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a me acovardar ao ver o sofrimento destas crianças. Até o dia em que um anjo passou por mim.

Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada porém por 2 longos anos de tratamentos dos mais diversos, hospitais, exames, manipulações, injeções, e todos os desconfortos trazidos pelos programas de quimioterapias e radioterapias.

Mas nunca vi meu anjo fraquejar. Já a vi chorar sim, muitas vezes, mas não via fraqueza em seu choro. Via medo em seus olhinhos algumas vezes, e isto é humano! Mas via confiança e determinação. Ela entregava o bracinho à enfermeira, e com uma lágrima nos olhos dizia: “faça tia, é preciso para eu ficar boa”.

Um dia, cheguei ao hospital de manhã cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. E comecei a ouvir uma resposta que ainda hoje não consigo contar sem vivenciar profunda emoção.

Meu anjo respondeu:

- Tio, disse-me ela, às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondida nos corredores. Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade de mim. Mas eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida!

Pensando no que a morte representava para crianças, que assistem seus heróis morrerem e ressuscitarem nos seriados e filmes, indaguei:

- E o que morte representa para você, minha querida?

- Olha tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e no outro dia acordamos no nosso quarto, em nossa própria cama não é?

(Lembrei que minhas filhas, na época crianças de 6 e 2 anos, costumavam dormir no meu quarto e após dormirem eu procedia exatamente assim.)

- É isso mesmo, e então?

- Vou explicar o que acontece, continuou ela: Quando nós dormimos, nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto, para nossa cama, não é?

- É isso mesmo querida, você é muito esperta!

- Olha tio, eu não nasci para esta vida! Um dia eu vou dormir e o meu Pai virá me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!

Fiquei “entupigaitado”. Boquiaberto, não sabia o que dizer. Chocado com o pensamento deste anjinho, com a maturidade que o sofrimento acelerou, com a visão e grande espiritualidade desta criança, fiquei parado, sem ação.

- E minha mãe vai ficar com muita saudade de mim, emendou ela.

Emocionado, travado na garganta, contendo uma lágrima e um soluço, perguntei ao meu anjo:

- E o que saudade significa para você, minha querida?

- Não sabe não tio? Saudade é o amor que fica!

Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um a dar uma definição melhor, mais direta e mais simples para a palavra saudade: saudade é o amor que fica!

Um anjo passou por mim…

Foi enviado para me dizer que existe muito mais entre o céu e a terra, do que nos permitimos enxergar. Que geralmente, absolutilizamos tudo que é relativo (carros novos, casas, roupas de grife, jóias) enquanto relativizamos a única coisa absoluta que temos, nossa transcendência.

Meu anjinho já se foi, há longos anos. Mas me deixou uma grande lição, vindo de alguém que jamais pensei, por ser criança e portadora de grave doença, e a quem nunca mais esqueci. Deixou uma lição que ajudou a melhorar a minha vida, a tentar ser mais humano e carinhoso com meus doentes, a repensar meus valores.

Hoje, quando a noite chega e o céu está limpo, vejo uma linda estrela a quem chamo “meu anjo”, que brilha e resplandece no céu. Imagino ser ela, fulgurante em sua nova e eterna casa.

Obrigado anjinho, pela vida bonita que tivestes, pelas lições que ensinastes, pela ajuda que me destes.

Que bom que existe saudade! O amor que ficou é eterno.``

O sentimento da saudade do ontem, é eterna, de qualquer forma é fundamental ter paciência e fé, pois um dia os verdadeiros laços que unem pessoas que se amam as aproximarão novamente. Isso é tão certo como a morte do corpo físico, que chegará para todos mais cedo ou mais tarde. Tudo faz com que busquemos aproveitarmos as oportunidades que temos diariamente, em dizer o quanto é bom viver com você.

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